Ela estava sem ventilador então dormia com as janelas abertas. Todos os dias. Nesse calor que é o Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, janelas com grades. Abriu os olhos e viu um homem olhando pra ela do terraço do vizinho. O susto, que é pânico pontual. Queria gritar, correr. No mínimo acordar. Claro, não dormia direito a duas noites seguidas afundadas no corrosivo vício. O ocorrido era um pesadelo afundando em outro pesadelo, um coma. Raciocinava em pânico e não conseguia se mover, nem voz tinha. Mente acordada, corpo dormindo. Deslindando, coma. Deve ser assim estar em coma, pensou. Seria a ansiedade dela? Ela não costuma ter problemas pra dormir, dorme que é uma beleza. Mas naquela noite pelejou. Não dormia. Que contradição! Tudo que ela queria há uma hora atrás era dormir e quando conseguiu, queria acordar. Finalmente! Correu em desespero para o banheiro. Seu totem é água gelada na cara. Pra confirmar que não é um pesadelo ainda. Respiração ofegante e alívio: acordada estava.